quinta-feira, 17 de março de 2011

Feudolaia maranhensis


Com o objetivo de dirimir quaisquer dúvidas quanto ao Brasil ser o país da piada pronta desde os primórdios, o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro anunciou nesta quarta-feira, 16 de março, a descoberta do maior dinossauro carnívoro brasileiro. Pertencendo a espécie dos espinossaurídeos, o bicho teria cerca de catorze metros de comprimento e pesaria algo em torno de sete toneladas. Alguém consegue adivinhar onde encontraram esse megapredador? Na terra dos Sarney. Sim! Lá na Feudolaia maranhensis.

Com meros vestígios do maxilar e de uma narina descobertos na Ilha do Cajual em 1999, os cientistas brasileiros conseguiram estabelecer as formas físicas do gigante maranhense e afirmar que ele viveu há 95 milhões de anos. Doze anos depois, durante o anúncio oficial da descoberta, foi apresentado um desenho detalhado do que seria o monstro jurássico. Mas como nossos pesquisadores e paleontólogos queriam ilustrar todo sangue piadista que corre em suas veias, batizaram o menino de Oxalaia quilombensis, numa homenagem à divindade africana Oxalá e aos históricos quilombos que existiram na ilha.

Apesar do gracejo, o nome conferido pelos pesquisadores da UFRJ soa esquisito. O sistema de nomenclatura binomial (ou binária), que é um dos pilares da classificação científica, segue normas rigorosas desde os séculos XVII e XVIII. Em geral, os nomes são aferidos de acordo com uma característica marcante da espécie ou homenageando quem a encontrou ou catalogou. Como no Brasil há sempre uma tendência para escalafobetizar determinadas regras e normas, chegou-se a nomenclatura iorubá escravagista. Um mimo histórico às avessas, digamos.

Confesso que fica difícil compreender como vestígios de um maxilar e de uma narina podem garantir cientificamente o formato completo de uma espécie nova, incluindo milimétricos detalhes de cor e forma de todo corpo. Como diria Chicó em sua sábia ignorância, “não sei, só sei que é assim”. No entanto, a criatividade dos nossos cientistas foi tanta que, na hora de desenhar nosso novo dinossauro, deram ao bicho, meio macumbeiro, meio escravo, uma pele peculiar, com tons e design que fazem lembrar o fardão centenário dos imortais da Academia Brasileira de Letras. Mera coincidência?!

Pela lógica, o nosso bichão bem poderia homenagear os coronéis corruptos da Feudolaia maranhensis, mas nossos cientistas preferiram tergiversar em africanismos. Como contra fatos não existem argumentos, agora temos o seguinte: estava no Maranhão o maior predador carnívoro do Brasil e estava na Bahia o maior ancestral do bicho-preguiça. Será que a Paleontologia está querendo nos ensinar História Contemporânea?

HELDER CALDEIRA
Escritor, Jornalista, Colunista Político, Palestrante e Conferencista
Rio de Janeiro - RJ
(21) 2245-8434 / (21) 8151-1159
heldercaldeira@estadao.com.br

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