quinta-feira, 17 de março de 2011


Os ovos do Obama

HELDER CALDEIRA

Escritor, Colunista Político, Palestrante e Conferencista

www.magnumpalestras.com.brheldercaldeira@estadao.com.br

*Autor de “Bravatas, Gravatas e Mamatas”, “Pareidolia Política” e “A Primeira Presidenta”, primeiro livro publicado no Brasil sobre a presidente Dilma Rousseff, lançado em janeiro de 2011.

O tempo é o senhor absoluto das verdades. Para o bem e para o mal. Há menos de meio século, uma turma bradava nas ruas palavras de ordem contra o que era chamado de “imperialismo norte-americano”. Em nome de causas como essa, milhares foram submetidos às mais atrozes torturas nos porões sombrios da “linha-dura”. Outras centenas deram as próprias vidas. De lá pra cá, uma ala dessa turma ascendeu ao poder e hoje refastela-se no conforto da amnésia política e da subserviência crônica e cultural. Como presente de Páscoa, renderão ao Brasil um espetáculo de puxa-saquismo nos próximos dias, durante a visita do presidente dos EUA, Barack Obama, portador da tal “change” que nunca aconteceu.

Ao que tudo indica, Barack Obama, tal qual um coelhinho, só vem ao Brasil para distribuir seus ovos de Páscoa, posar de bonito nas fotografias e tentar azeitar algum negócio com os “tupiniquins” visando apenas seus próprios cofres hoje tão precários. A famigerada compra dos caças e o carinho petista com o Irã são algumas delas. Ou alguém ainda acredita que o ex-pop star virá ao Brasil para anunciar o fim da bitributação de empresas brasileiras nos EUA ou a extinção das barreiras protecionistas que dificultam a entrada dos nossos produtos no mercado norte-americano? Lengalenga.

Ainda assim, muito além da deferência a uma visita oficial de um chefe de Estado, politiqueiros de toda espécie disputaram à tapa a inclusão de seus feudos no roteiro do passeio de Obama. Como sempre, Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro e gandula-mor da administração lulo-petista, conquistou o direito de dar palanque ao presidente norte-americano. Em alvoroço, as comunidades pseudopacificadas querem seu lugar ao sol e sonham ver Obama subindo suas ladeiras. É como bem diz o historiador econômico David Landes, simples e direto, a propósito de o mundo ser dividido em três tipos de nações: “há aquelas em que as pessoas gastam muito dinheiro para não aumentar de peso, aquelas em que as pessoas comem para viver e aquelas que não sabem de onde virá a próxima refeição”. Como o pão está curto e caro, fiquemos, pois, apenas com o circo.

E a tenda vai estar bonita no Rio de Janeiro no próximo dia 20 de março. Barack Obama fará um discurso a céu aberto para uma multidão (espera-se) e com uma retaguarda de 2550 bajuladores a contemplar-lhe os fundilhos. Divididos por estamentos, óbvio. Como informa o colunista Lauro Jardim, da revista Veja, 50 supervips ficarão posicionados bem pertinho do presidente norte-americano, os chamados “papagaios de pirata”; outros 500 vips estarão um metro atrás; e 2000 convidados ilustres – um pouco menos vips – ficarão ao fundo, bem atrás. Um espetáculo que deve custar alguns milhões de Reais ao Estado que chora pitangas e não consegue concretizar, por exemplo, a ajuda humanitária às vítimas das tragédias dos últimos dois anos. Mas está tudo certo. Para uma população que legitima um governo estadual fundado em factoides midiáticos e operações carnavalescas, está ótimo.

Resta saber quem serão os privilegiados que receberão os ovos de Páscoa de Barack Obama. Falta-nos um Superman com olhar de raio-x, capaz de radiografar o presidente norte-americano no momento do discurso. Acredito que o filme revelaria uma abundância de bocas a tentar lambiscar o presente. O resto é bobagem.

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