quinta-feira, 17 de março de 2011

Rua sete de setembro em 1957

O BICENTENÁRIO DE GRAJAÚ

Álvaro Braga

Neste dia 11 de março de 2011 se comemoram os duzentos anos da fundação do município de Grajaú, que até o ano passado era festejado na data de 29 de abril, data de sua emancipação. Intensa festividade está programada para celebrar o bicentenário do município do Centro-Sul do Maranhão, que fica a 580 km de São Luís.
O site imirante.com informa: "A programação de aniversário da cidade começa com uma alvorada com a Banda Municipal Maestro Torquato Lima e fogos em todos os bairros da cidade, às 5h da manhã. Logo após, a Companhia Arte Sombra fará encenação da chegada do Alferes Antonio Francisco dos Reis, seguida do lançamento da Pedra da Memória na Praça Porto da Chapada. O bispo diocesano de Grajaú, dom Franco Cuter, celebra missa Campal no bairro Limoeiro.

Às 9h30, na praça Frei Alberto Beretta [Cidade Alta], será lançada a Pedra Fundamental do Museu Histórico de Grajaú e da Capela do Nosso Senhor do Bonfim, fechando a manhã com a abertura da Feira Cultural dos 200 anos de Grajaú no Seminário Diocesano “Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos”.

Às 14h, a Câmara Municipal de Grajaú promoverá uma sessão solene por ocasião das festas, logo após torneio esportivo com representações de Grajaú e Pastos Bons, município que se originou Grajaú. A partida será no Campo Socyte da praça Dom Roberto Colombo, na Cidade Alta.

Às 19h30, o cine-teatro “Frei Lauro”, também na Cidade Alta, será palco da palestra “A Dinâmica da Fundação, povoamento e desenvolvimento de Grajaú”, proferida pelo presidente da comissão organizadora da festa, Sálvio Dino, seguida de condecorações com a “Medalha Mérito do Grajaú, dedicada a Militão Bandeira Barros” e lançamento do selo comemorativo “200 Anos” pelos Correios.

A programação do dia encerrará com um show cultural com cantores da terra na praça Raimundo Simas. No sábado (12), a festividade continua ainda com os cantores grajauenses e com apresentação da banda Bahiana, Oz Bambaz, na praça Raimundo Simas."
A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, edição IBGE de 1957, relata da seguinte forma a história de Grajaú:
"A cidade de Grajaú estabelecida no centro-sul do estado do Maranhão foi fundada pelo navegador Alferes Antônio Francisco dos Reis, em 29 de abril de 1811, à margem leste do Rio Grajaú, no local denominado Fazenda Chapada que era de propriedade de Manoel Valentim Fernandes, local mais conhecido como Porto da Chapada. A margem oeste, à época, era habitada pelos índios Timbiras e Piocobjés. Esses índios, no ano de 1814, promoveram uma chacina contra os habitantes da povoação fundada por Antônio Francisco dos Reis, que já contavam com 40 pessoas, das quais, escaparam apenas seis que se encontravam ausentes.
No ano de 1816 os moradores restantes reiniciaram a povoação, dando-lhe o nome de São Paulo do Norte, contando então com um pequeno destacamento de tropas. Em 1817, o então governador do estado mandou fundar no lugar Estrião Grande a colônia Leopoldina, para maior segurança dos habitantes da região, cuja colônia compunha-se de 40 soldados de linha, liderados por Francisco José Pinto Magalhães.
Pela Lei Provincial nº 7, de 29 de abril de 1835, Pedro da Costa Ferreira, então presidente da província, elevou a povoação São Paulo do Norte à categoria de vila, passando a chamar-se Vila da Chapada.
Durante os anos seguintes, mais precisamente no ano de 1856, a situação da Vila da Chapada foi das mais promissoras, composta de setenta e nove casas, das quais seis eram cobertas de telhas, habitadas por 341 pessoas, na margem direita, e na margem esquerda do rio havia 11 casas com 79 pessoas.
Esse ano marcou a chegada de Militão Bandeira Barros, filho bastardo do Capitão-mor Antônio Bandeira, como Juiz da Paz. Tratava-se de um homem de grande cultura intelectual, além de gostar de literatura. Imortalizou-se com a criação da Roda de Amigos, iniciativa que ensejou a formação de uma sociedade, ganhando foro de cultura e permanecendo assim por muitos anos. Neste grupo destacaram-se Cláudio Saraiva Chaves, Miguel Olímpio de Carvalho, Liberalino Tavares Bastos, Manoel Mariano Bandeira da Gama, Bernardo Costa, Raimundo Junqueira, Gustavo Tavares, Francisco de Araújo Costa e Sabino Alves Lima.
Em 1869, foi criado o plano de incorporação de uma Companhia a Vapor no rio Grajaú, a qual surgiu através de Antônio Luis Soares. Essa navegação teve início dois anos depois da incorporação. Surgindo, assim, o centro comercial da cidade, tendo como ponto principal a rua do Porto Grande, atual Rua 7 de Setembro.
Foi da Vila da Chapada que se originou a cidade de Grajaú, a qual, pela Lei Provincial nº 1225, de 7 de abril de 1881, elevou-se à categoria de cidade com o nome de Grajaú, originário da tribo dos índios Guajajara, que ocupava a margem direita do rio.
A cidade de Grajaú foi construída e conquistada com o objetivo puramente lucrativo, ou seja, econômico, sendo assim toda a sua história está intensamente ligada a sua produção econômica.
Quando descoberta a navegação do rio Grajaú e, conseqüentemente, a ligação do sertão com a metrópole, várias sesmarias foram compradas e logo começou a povoação daquelas paragens, implantando-se fazendas para a pastagem dos rebanhos de gado e cavalo, atividade esta que se tornaria a principal fonte-geradora de economia do Porto da Chapada, sendo que até hoje tem papel importante na economia, gerando empregos e movimentando recursos.
Era visível a importância daquele Porto no contexto sócio econômico no Sul do Maranhão, sendo que fora destinado para este porto fluvial, diante de sua privilegiada posição geográfica, o empório comercial dos nossos e de outros sertões.
Em O Sertão Carlota Carvalho nos diz que: “Nas ruas, se vê o movimento humano desdobrando-se em aplicações de atividade: pessoas tratando de negócios e conduzindo tropas de burros e cavalos com cargas que chegam e que saem para os sertões do Maranhão, Goiás e sul do Pará, os quais se abastecem de mercadorias nesse empório”.
Grajaú era a cidade que abastecia todo o sul - maranhense entre outros estados, sendo que sua economia e suas famílias giravam em torno das benesses do rio e do gado, tendo como meio de transporte canoas e lanchas (Batelões). No inverno usavam-se os Batelões que traziam sacas de produtos para estes sertões, o sal sendo o maior produto comercializado neste entreposto, pois necessário para o consumo humano e do gado e era vendido em saca de 40 kg , por 500 réis cada, como também o açúcar o café, a farinha, o querosene, a bolacha e o arroz entre outros, recebendo anualmente mais de 200 contos de réis em fazendas secas e molhadas*, tudo demorando mais ou menos três ou quatro messes para chegar, sendo que os produtos eram encomendados com um ( 1 ) ano de antecedência. Já no verão, quem fazia este trabalho eram os Vareiros, que em canoas subiam e desciam o rio, demorando normalmente 15 a 20 dias fazendo assim o trafego dos produtos.
Nos Portos os Batelões e Canoas eram puxados por manilhas, aportando em um tipo de rampa, onde estas são rebocadas para o desembarque e embarque de mercadorias, sendo transferidas para os armazéns ora pela submissão do animal eqüino, e ora pela força humana, onde cada saca carregada do produto era negociada a um (1) tostão.
Macio Coutinho, em Grajaú Um Estudo de Sua História nos diz que, “Grajaú era o ponto de armazenagem para o abastecimento de Pastos Bons e mais da metade do sertão maranhense, alcançando ainda o norte de Goiás e sul do Pará, passando pela região do Tocantins e do Araguaia. Essa extensa área do comércio, abastecida a partir do rio, foi garantindo ao longo dos anos o rápido desenvolvimento (…). Já em meados de 1900 tem-se a implantação de marcantes indústrias, destacando-se as sete (7) Usinas de Algodão, as duas (2) Usinas de beneficiamento de Arroz e uma (1) de Torrefação do Café, Carlota Carvalho em O Sertão ainda nos diz que “Efeito disso, as casas de negócio são disseminadas pelas extremidades. Há, contudo um bairro comercial no centro da cidade. É na Rua do Porto, onde descarregam as canoas e é passagem pública, serviço municipal”.
Por muito tempo tanto a navegação do Rio Grajaú como o Gado foram os principais fatores econômicos desta região, fazendo com que a cidade que se formava e de mesmo nome, figurasse como uma das mais promissoras.
Já em meados de 1930 este rio que tanto nos beneficiou começava a dar indícios do desfalecimento da sua navegação. Todavia a população de Grajaú mantinha a esperança de um futuro promissor, agora embalada no sonho do progresso econômico pela exploração de suas riquezas minerais e pesqueiras, além da agricultura.
Os primeiros relatos que temos de minérios nestes sertões são com os franceses, como nos conta Sálvio Dino “os franceses no tempo do seu domínio exploraram este rio até suas cabeceiras, onde descobriram mina de lápis-lazúli, salitre e sal-gema…”.
Em 1856 o Comendador Antônio da Cruz Machado, afirma ser aquela região a mais rica do estado em “minerais de toda sorte” entre eles, grafite, chumbo e gipsita. Depois um engenheiro da província, declara ter descoberto á margem do rio Grajaú alguns pedaços de cobre, em “pequena quantidade, mais de qualidade superior”. Já em 1890 José Lourenço da Silva Milanêz, delegado de policia de Grajaú, informa a existência de pedras decorativas á semelhança de quartzo nas redondezas da Cachoeira do Viriato.
Localizado na meso-região Centro Maranhense, Grajaú integra com os municípios de Arame, Barra do Corda, Joselândia, Sitio Novo e Tuntum a micro-região do Alto Mearim e Grajaú.
O município de Grajaú possui uma área de 7.408 Km2, distante de São Luís 418.284 Km, à qual está ligada pela BR-226 e a MA-006. O município é um dos 20 maiores do Maranhão.
A sede do município encontra-se a 130 metros de altitude acima do nível do mar, limitando-se ao norte com Arame, ao nordeste com Itaipava do Grajaú, a leste com Barra do Corda, ao sul com Formosa da Serra Negra, a oeste com Sítio Novo e ao noroeste com Amarante do Maranhão.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006 a população total do município era de 54.392 habitantes. Cerca de metade da população vive na zona rural do município, onde trabalha na produção agrícola que mantém a economia local, especialmente a produção de arroz.
Entre os minérios existem a areia, a pedra seixo, a pedra granito e a pedra branca.
A evolução social processou-se lentamente, apenas se consolidando ao limiar do século XIX.
Viva Grajaú!

Álvaro Braga é historiador, funcionário federal e mora em Barra do Corda

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