segunda-feira, 24 de agosto de 2009

BARRADOCORDENSE VENDE GARRAFADAS COM POESIAS NO RIO DE JANEIRO - RJ.



Tia Maria das Ervas vende receitas de garrafada há 60 anos

RIO - Pendurada na porta da loja, uma faixa amarela reluzente avisa: "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá". A terra da maranhense Tia Maria das Ervas, uma das fundadoras da Feira de São Cristóvão, é, sim, a dos versos clássicos de Gonçalves Dias. Mas também é das garrafadas milagrosas, que realizam sonhos da potência sexual infinita, da cura da bronquite, da asma e dos males do coração. Do coração, mas não do amor, avisa Tia Maria, que "Isso, só se cura amando". (Vídeo: veja as dicas de Tia Maria das Ervas)

Católica, "graças a Deus", devota de Nossa Senhora da Conceição, de São Jorge e São Sebastião, Maria Lúcia Alves Cardoso nasceu em 26 de outubro de 1936, em uma casa feita com palha de coco e barro. Filha de lavradores no pequeno vilarejo de Barra do Corda, no Maranhão, e descendente de índios, viu desde criança suas tias resolverem os problemas de saúde da vizinhança com garrafadas, produzidas com as ervas do quintal.

Aos 11 anos, veio para o Rio morar com um tio. Mas se desentendeu com a mulher dele - "sempre fui muito independente" - e passou a viver da venda de roupas em São Cristóvão. Se a cliente reclamava de algum problema de saúde, Tia Maria já prometia uma garrafada. As receitas com ervas foram ficando famosas, ao mesmo tempo em que a Feira dos Nordestinos ia se estruturando. De sua barraca, onde sarapatéu e baião de dois conviviam com as tradicionais receitas curativas e as roupas, Tia Maria viu gerações de migrantes chegarem nos paus de arara a São Cristóvão.

- Os mais gordinhos eram escolhidos pelos engenheiros para o trabalho (nas obras). Os magrinhos ficavam por aqui, trazendo só farinha, um pedaço de rapadura e um saco na mão. Já fiz muito sarapatel para matar a fome desse povo. A gente já sofreu muito. Mas quem teve juízo hoje está bem - lembra Tia Maria.

Ela se orgulha de ter criado três filhos. Já negou proposta de farmácia de manipulação e até de "francês em euro". Pensa em escrever suas memórias. Mas sem pressa.

- Quando Deus tiver que me levar, eu vou saber.

Medo, só de mentira e fofoca

A maranhense que venceu sozinha no Rio e se tornou uma das mais conhecidas personalidades da Feira de São Cristóvão não tem medo de nada. Ou de quase nada. Conhecedora do segredos das ervas, sábia e muito segura de suas palavras, Tia Maria só teme, no mundo, a inveja. Segundo ela, "mentira e fofoca" derrubam qualquer pessoa. O negócio é "não dar papo" ou recorrer ao padroeiro.

- No dia de São Sebastião, você pega uma espiga de milho bem verde e bonita, junta as folhas dela para baixo e amarra uma fita de São Sebastião nessas folhas. Pendura a espiga atrás da porta com outra fita. No ano seguinte, enterra aquela espiga, rezando para o milho levar toda a inveja e fofoca para o fundo da terra. E substitui o milho - explica ela.

Apesar de fiel às garrafadas, Tia Maria incentiva seus clientes a manterem o tratamento médico. Segundo a nutróloga Fátima Cardoso, integrante do grupo de trabalho sobre fitoterapia do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), é fundamental que o paciente avise a seu médico o conteúdo da garrafada. Componentes como álcool e substâncias secretadas pelas ervas podem influir na ação dos medicamentos.

- A garrafada é uma mistura de ervas reconhecidas pela tradição popular usada com propósito terapêutico. Pode ser benéfica, mas é preciso levar seu conteúdo a um médico com conhecimento em fitoterapia - explica a nutróloga.

Clarissa Monteagudo - Extra

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Um comentário:

Gestão de Escritórios disse...

Parabéns pela matéria e informo-lhe que seu blog fará parte integrante de leitura diária.

Abraços,

Rogério Magno.